IDOSO PROFISSIONAL
Quando completei 60 anos e
passei a desfrutar dos privilégios reservados aos idosos em filas de aeroportos
e bancos, me consolei pensando que a velhice poderia ter algumas vantagens. Mas
não é bem assim. Uma fila com três
idosos, num balcão de aeroporto, pode levar mais tempo do que uma de 12
não idosos ao lados, porque os velhinhos demoram muito, adoram conversar com as
atendentes. No banco é pior ainda, com senhas esquecidas e extratos
extraviados. Nesse caso, os idosos mais profissionais escolhem a fila comum,
e muitos mais bobos e vaidosos
também, para não confessar publicamente
a idade. É claro que envelhecer não é agradável, mas já foi muito pios, nem faz
tanto tempo assim, quando a expectativa de vida era de 50 anos e não havia
antibióticos. O chato é que enquanto maior a experiência, o aprendizado com os
erros, as vivências e informações acumuladas, menor o tempo para usá-las. Uma
das melhores e piores conseqüências do progresso cientifico e da prosperidade
econômica foi o aumento espantoso da expectativa de vida no Brasil. Viver mais
é uma ótima notícia, mas, se for para viver mal, sem saúde, segurança e
conforto, é péssima. Como pagar aposentadorias dignas a milhões de
trabalhadores, sem quebrar a previdência? Como abrigar e cuidar dessas
multidões de novos velhos pobres? Os indiferentes de hoje são os idosos de
amanhã, se chegarem lá. No Brasil tem bolsa para todo
mundo, até as famílias dos presos recebem a bolsa-bandido de R$ 860:00
mensais, certamente mais do que grande parte dos idosos brasileiro, que
trabalharam a vida inteira, sobreviveram a planos econômicos desastrosos,
roubalheira incomensuráveis e incompetência dos seus governantes. Muitos
presidiários vivem bem melhor do que idosos pobres, presos em casa e em asilos.
Civilizações mais antigas, e, por isso, mais sábias e experientes, como a China
e o Japão, valorizam, respeitam e preservam seus velhos justamente por sua
experiência e sabedoria. Eles são valiosos, o Estado investiu muito dinheiro
neles, em sua educação saúde e formação
profissional, e o pior dos desperdícios é esquecer que eles existem.
Nelson Motta –
jornalista
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